Ética de trabalho
Faits divers à parte, o que é verdadeiramente dramático no nosso tecido social é a completa ausência de uma ética de trabalho. Não devemos deter a nossa atenção no facto de essas novas gerações serem ridiculamente ignorantes: mas sim no facto de olharem com espanto e assombro para quem lhes diga que o ser humano deve supostamente desenvolver um esforço para se retirar desse estado; é o facto de nunca lhes terem explicado que há um estádio evolucional posterior à infância.
São raras as pessoas que entendem que fazer as coisas bem - ou fazê-las sempre e cada vez melhor - é um valor moral em si mesmo.
Por um lado e em minoria, há uma falange que aposta no trabalho como um sacrifício que se suporta para atingir um determinado fim. É o salário como troca pela escravidão, que Séneca tanto criticava. Mas note-se bem a subtileza: o trabalho é enaltecido e são desprezadas outras formas de realização pessoal; mas o trabalho é um mero percurso que permite acumular riqueza ou poder. Por isso, quando se auto-elogia o muito que se trabalha, auto-elogia-se na verdade o muito que se conquista. É um estado de espírito vicioso particularmente comum em certos meios.
O episódio abaixo descrito é apenas uma colorida ilustração de um outro estado de espírito - que grassa nos mais variados estratos da nossa sociedade. A nossa juventude parece não saber que, inerente à dignidade da pessoa humana, existe o pressuposto de cada um desenvolver um esforço de crescimento emocional e intelectual e que há algo de aviltante na ignorância exercida por militância ou por inércia. Não haja dúvidas que a nossa sociedade vive num limbo de facilitismo onde impera a lei do menor esforço - lei essa que é cuidadosamente transmitida às novas gerações desde o banco da escola.
Não nos admiremos, pois, quando a sociedade se manifesta com tiques cavernícolas ou quando apelos primários têm tão caloroso acolhimento. Uma sociedade tão infantilizada e preguiçosa não pode legitimamente aspirar a uma condição elevada nem a percorrer um trilho de progresso e civilização. Essas são aspirações que exigem labor e persistência de um povo - conceitos que são ignorados ou, não o sendo, são demasiado fastidiosos para se acolher.
3 Comments:
Com muito ou pouco trabalho acabamos todos em cinzas, ingloriamente - a indolência é, por isso, uma elevada forma de sabedoria!
A indolência, sim. O torpor letárgico, não!
Mas calha bem apanhá-lo por aqui: então e o fonióne que me foi prometido?!
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